top of page
Buscar

Luto por quem fomos

  • Foto do escritor: rachelschwartzc
    rachelschwartzc
  • 30 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

O clichê é real. Depois que embarcamos naquele avião, não há retorno. Não existe voltar a ser quem éramos. 


Imigrar é atender ao desejo de algo novo, buscar uma mudança que só a distância de casa pode proporcionar. Ao tomar essa decisão, deixamos para trás tudo o que era familiar, seja bom ou ruim. Imigrar é perseguir objetivos e sonhos que, por algum motivo, pareciam inalcançáveis no lugar onde crescemos.


Embora essa busca por mudança seja motivadora, também deixamos para trás risadas familiares, abraços que confortavam, e o sentido de pertencimento que nos definia. Abandonamos o conforto de saber quem somos, muitas vezes porque isso também era conhecido demais. E uma vez que você muda, mesmo que volte para sua cidade natal, algo em você nunca será o mesmo. Isso pode ser doloroso, mas também é motivo de celebração – você mudou para sempre.


Lidar com essas transformações, sejam elas internas ou até mesmo físicas, pode ser difícil. É possível, sim, desejar intensamente essa nova experiência e, ao mesmo tempo, sentir o luto pelo que essa mudança nos custou. Quando nos abrimos para novos lugares, culturas e olhares, permitimos que eles nos afetem. Não saímos ilesos. Nossos recursos psíquicos, nossa identidade e nosso repertório emocional são permanentemente alterados.


Não quero assustar nem romantizar. Apenas trazer clareza a um tema que muitos discutem de outra forma. Há uma dimensão de perdas que vão além de datas comemorativas: a perda de quem fomos. Isso pode ser doloroso, mesmo estando em um lugar e posição que são incríveis. Talvez antes fôssemos mais tímidos, com tempo para estar a sós; ou mais extrovertidos, cercados de amigos e oportunidades de partilhar momentos.


Estar feliz com a decisão de imigrar não exclui outros sentimentos, como culpa, tristeza e frustração pela perda de uma vida habitual. Você já sentiu ou está sentindo isso durante o seu processo de imigração? Conseguiu espaço para explorar essas emoções?


Proponho que esses sentimentos não sejam ignorados, pois fazem parte do processo e não desaparecem com negação. Num processo analítico, temos a oportunidade de explorar essas nuances, de acolher os sentimentos ambivalentes que, muitas vezes, nem nós mesmos conseguimos reconhecer. É nesse espaço que podemos elaborar o luto por quem fomos, sem esquecer que, no final, também ganhamos algo novo.



 
 
3 - verde clarinho_edited.jpg
bottom of page